terça-feira, 17 de novembro de 2009

Trampolim

Os degraus que levavam ao trampolim eram muito parecidos com a longa escada que tantas vezes havia subido na sua casa em Frankfurt. Tinha deixado para trás um jardim com seus pinheiros altivos de um clima seco e gélido. Ainda na Alemanha de sua infância desenhava coqueiros de uma terra distante com tanta veemência, que era como se tivesse profetizado a sua chegada aos trópicos.

O frio que sentia na barriga, lá do alto do trampolim, fazia recordar a ansiedade que teve ao levar um soco no estômago de um colega do Kidergarten. Os preparativos para uma mudança súbita já estava nos planos da família, de modo que este foi o último acontecimento ocorrido na sua terra natal.

O ruído das molas do balançar da enorme prancha gerava uma imensidão de felicidade. Por muitos anos o único som produzido por vibrações acústicas que ela ouvia, era oriundo de um sopro cardíaco, uma anomalia no seu coração, que havia desaparecido por completo, quase que por um milagre, pouco após a sua chegada a São Paulo.

A tábua de madeira pintada de branco e descascada pelo tempo, já estava trepidando; não estava convencida se valeria a pena uma medalha nacional. O que mais importava agora não era mais o salto mortal e sim o salto vital. Ela havia se dedicado ao mergulho mais visceral de sua alma para encontrar a PAZ e a felicidade. Não se tratava mais de ganhar e vencer, e sim de viver.

SPLASH, o impacto na água fria lhe fazia sair do sonho para retornar a realidade, e com toda energia e agilidade de uma garota de 12 anos, subia novamente as escadarias para um novo pulo e novas lembranças.

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