domingo, 15 de novembro de 2009

AS TRÊS PORQUINHAS

O patriarca da família dos bunodontes contemplava sua prole; oriundos de uma longa estirpe de mamíferos bem-sucedidos e limpos; havia se sacrificado para lhes proporcionar a melhor educação. Sua vida atual era uma cornucópia de anseios e perturbações, principalmente em relação ao futuro incerto de algumas de suas leitoazinhas.

A primogênita era a que estava melhor estabelecida. Sua profissão de intérprete simultânea era muito requisitada nas fazendas, já que pouquíssimos animais eram capazes de compreender o “relincho”, o “mugidez” e o “cacarejo”; falava estas línguas sem sotáque, com muita destreza.

A leitoa do meio, a famosa sanduíche de mortadela, era uma preocupação. Sua existência estava instável , trocava regularmente de emprego, sem se fixar em nada, fazendo bicos ali e aqui, se virando. Era traumatizada por ter visto tantos parentes assassinados para serem vendidos como lombinho. Na primeira oportunidade, imigrou para Israel, num kibbutz casher, onde sabia que dificilmente viraria um prato de leitão à pururuca .

A terceira, a caçula, era a mais complicada, estava desempregada e gastava toda a mesada do pai no jogo do bicho; ainda ajudava à vender outros porquinhos no mercado negro a fim de serem transformados em presunto crú.

O ancião progenitor balançava a cabeça e pensava, na sua época a vida era mais fácil, o único perigo era ser comido pelo lobo mau, mas agora com esta gripe suína, quem estaria salvo?

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