quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Tranformacao: dois solitarios que se unem

Casar é compartilhar múltiplas experiências;



É ter filhos; dar vida à vida;



É saber ter espirito esportivo;



É saber se equilibrar diante dos altos e baixos;



É estar junto sem se perguntar o porquê;



É acima de tudo um grande desafio,



Uma vez enfrentado terá como recompensa



o maior brilho da vida.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Os Três Irmãos

-Eu sabia, eu sabia... Os vinte dias passariam rápidos... O balanço do mar nos deixava numa atmosfera de transe. Tudo parecia um sonho, as refeições caprichadas servidas com a louça Rosenthal e os copos de cristal Mazer; o clima da Europa já reinava no ambiente. A música clássica tocava a noite toda na sala do restaurante; as sobremesas, o chá e o café servidos no "salon à coté" para os que gostavam de prolongar a noite.
Dava para avistar o porto de Cherbourg já bem próximo. Hemetério ainda pensou que era uma pena seus dois irmãos não estarem ali, mas eles tinham que cuidar dos negócios. Quem sabe uma próxima vez...
A chegada a Montparnasse fora um incômodo. Agora iriam para o hotel no premier arrondissement, ao lado da "Comedie Française", descansar um pouco, para depois assistirem uma apresentação de Molière. Após o espetáculo degustariam uma comida típica francesa no tradicional “Drouant”.
D. Leonor vestida de renda branca cobrindo até o pescoço e com mangas bufantes, brincos de pérola, com pudor e ao mesmo tempo clássica entra numa carruagem-taxi. O restaurante estava em ebulição. Hemetério e sua esposa se acomodaram numa mesa central reservada meses antes. D. Leonor, como num sonho, olha ao seu lado sentados: Émile Zola, Renoir, Monet, George Clemenceau e Edmond Goncort. Aquela nova Meca era o centro do mundo, as artes floresciam, assim como as idéias; Hemetério pensou que privilégio poder vivenciar este período da história! D. Leonor pediu a sua água preferida: Badoit.
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A trepidação do trem não impediu que Sr. Stefan e Dona Beth, estivessem imersos em sono profundo, ao contrário, chegava a se tornar um conforto. Pontualmente às 08h00 da manhã chegaram à Gare de Lyon. Era sexta, de modo que já haviam comprado os ingressos para assistir Le Misanthrope e logo após o espetáculo jantariam no “Drouant”. O casal teria um dia de descanso no Hotel Crillion para aproveitar mais tarde os programas noturnos.
Quando anoiteceu, na cidade inteiramente iluminada, Sr. Stefan e D. Beth resolveram caminhar para apreciar cada canto, apesar do salto alto e do tailleur. Passaram na frente do George Pompidou. Stefan comenta- Que horror, destruir uma parte de Paris para construir uma fábrica de arte, de cultura... - Esta revolução cultural na realidade se tornara um ultraje para um conhecedor e colecionador de arte! -Na sua residência em Milão, pintores como Marc Chagall, Giorgio de Chirico, Salvador Dali, Gustave Klimt, e muitos outros adornavam suas paredes.
Após o termino da ópera, se dirigiram para o “Drourant”. Obviamente já haviam reservado a mesa central. Quando Stefan está quase sentado em frente a sua esposa, levantou precipitadamente para cumprimentar uma senhora conhecida; beija sua mão e retorna ao seu lugar. Dona Beth vermelha de vergonha comenta que seu marido cometera uma gafe: fora cumprimentar Gina Lollobrigida. Stefan achou graça do equívoco e prometeu contar aos seus dois irmãos. D. Beth pede água com gás (Badoit) . O restaurante que ficou conhecido pelos grandes intelecutuais da época de 1880, estava todo decorado com fotos antigas. Chamou a atenção de D. Beth a foto de um casal D.Leonor e Sr. Hemetério, que vieram do Brasil.
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Negócio da China pensou , em sete horas já estavam no Charles de Gaule. A viagem saiu praticamente de graça, só usando milhas. A até conseguiu um up grade para a primeira classe da Air France, contaria para os seus irmãos que se encontravam no Brasil. Chegaram cedo à cidade luz e aproveitaram para fazer algumas comprinhas, descansar.
Não chegou a anoitecer, de modo que resolveram caminhar até à Comedie Française para assistir a peça Misanthrope . D. Barbara tinha colocado uma calça de linho branca e uma blusa de seda azul para facilitar as andanças nas ruas da grande ville. No caminho, porém, pararam no Jardim des Tuileries, onde havia uma grande roda gigante que do alto avistava o jardim do Louvre. Resolveram então subir na romântica roda. Victor falou, olhando para a esposa Barbara -Esta cidade convida ao romance, há séculos amantes freqüentam esta perdição! A musicalidade, a história, a gastronomia, tudo deliciosamente envolvente!
Chegaram às 22h00min no “Drourant”, e a mesa central já estava à espera do casal. D. Barbara pediu uma garrafa de Badoit, pois pensou nos seus antepassados Sr. Hemetério e D. Leonor, e Victor provavelmente se lembrou dos avós: D. Beth e Sr. Stefan; sabiam que talvez estavam visitando os mesmos lugares, saboreando as mesmas comidas e se divertindo da mesma maneira. A famosa Badoit existe em Paris desde 1789. Tinha certeza que estavam repetindo uma cena conhecida de namorados de muitos séculos!
Paris é literalmente um céu... Qual não foi a surpresa quando viram na mesa ao lado a Madonna e Jesus! Que ambiente etéreo!

domingo, 7 de fevereiro de 2010

A águia

Se aquela grande águia me aflige por só ter a presunção de vôos colossais e aterroriza o vôo singelo e sincero; então ela não entende nada de liberdade, de vôo livre; é apenas uma predadora que devora para sobreviver.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Mandil

Abençoada por “Adonai”, a noiva entra coberta de um manto de pureza; era uma das noivas mais belas, seu semblante de “Sholomite”, mais parecia uma “Ahava”, a primeira das mulheres a existir, uma verdadeira árvore frutífera pronta a se tornar abundante.

A sua chegada provocava uma turbulência de emoções, com todo o respeito e “aferiação”, os corações batiam ritmicamente badaladas de satisfação; sua imagem de feminilidade e força era tão inusitada que evocava uma volúpia divina.

As cantorias logo iniciaram, o “simchat” penetrava nas mentes de todos os presentes, contagiando até mesmo os treteiros e "avoengos". A tranquilidade e a paz agora entravam sem reinar, consultando o pensamento de cada indivíduo, indagando se seriam bem-vindos. Pouco a pouco a energia era inspirada, abrindo os brônquios mais fechados e aflitos.

As famílias, os “dartros”, todos sem exceção começavam a se conjuminar; mães, pais, filhos se aproximavam até mesmo emocionalmente. O dever, o trabalho, o “camuelo” e as obrigações, haviam sido deixados para trás. O ar festivo embriagava o ambiente.

A benção final é proclamada: “Baruch...” A noiva finaliza sua aparição sem o “mandil” e os homens presentes mantiveram o solidéu sobre suas cabeças. Essa experiência transformadora causa ao mesmo tempo enlevo, despertar e “achegas” para os grandes mistérios do mundo, e nunca mais seremos os mesmos.


Nota da autora: esse texto é uma metáfora do “shabat” : a noiva representaria o dia sagrado do sábado para o povo judeu.

Palavras em hebraico:

“Adonai”: D’eus
“Sholomite”: paz
“Ahava”: Eva
“Simchat”: alegria
“Baruch”: benção

Palavras escolhidas aleatoriamente do dicionário:

Mandil: véu, turbante
Aferiação: ato de conferir, avaliar, estimar
Dartros: designação genérica de doenças de pele.
Avoengos: antepassados, avós
Camuelo: avarento
Achegas: rendas suplementares

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Orelhão

Ploft, primeiro saiu uma; ploft depois a segunda. E em seguida o restante da cabeça.
A mãe levou um susto: - Nossa parece um ratinho com orelhas gigantes!
Era um ser minúsculo, quase prematuro, a tez branca, pálida. A primeira providência que d. Helena tomou em relação a sua nova cria foi consertar pessoalmente aquelas conchas auditivas; afinal sabia que se nada fizesse, seu filho seria apelidado de Dr. Spock, e como era uma boa mãe, logo tratou de colar um esparadrapo grudando cada extremidade na epiderme.
À medida que o tempo passava as orelhas também cresciam e se tornavam de abano; de modo que todo esforço de d. Helena para não ridicularizarem seu filho foi em vão. Seu novo apelido na escola era Dumbo.
D. Helena ficou de orelha em pé. O que fazer agora? Recorreu a otorrinos, cirurgiões plásticos, curandeiros, e nada adiantava. Seu filho era um verdadeiro orelhudo. O jeito era aceitar e nao dar ouvidos aos outros.
Foi assim que descobriram no menino uma incrível aptidão de escutar conversas. A primeira vez que foram almoçar fora, ele foi capaz de ouvir as conversas paralelas de todas as mesas e ainda discutir o assunto tratado na sua própria. Ele era um gênio, sua talento intelectual estava acima da média. D.Helena nao podia acreditar nos seus ouvidos, ai se encontrava uma solucao, aprofundar estas habilidades raras.
O garoto prodígio aprendeu rapidamente inglês, francês, italiano e alemão; possuía um ótimo ouvido para línguas, falava todas como um nativo. Aprendeu a tirar letras de música de ouvido, como autodidata, tocando vários instrumentos: piano, saxofone, violão e violino. Ganhou inúmeros prêmios musicais, se tornou interprete simultâneo de várias línguas, traduzindo mais de uma língua por vez. Percorreu o mundo participando de congressos, era uma sumidade.
Quando cansou da vida de estrela apenas se tornou um agente ouvidor secreto do governo e nunca mais baixou as orelhas!

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Do Comentário

Entreportinhola adentro e logo me meto embaixo das cobertas, pensando qual seria a programação de TV que ele tinha escolhido desta vez. Muitos dos seus seriados favoritos, eu achava chatíssimos, aquele lengalenga americano, no qual nada acontece e sempre encharcado de mulheres que só existem em capa de revista.
Para minha surpresa, era um documentário sobre o CEAGESP, o conhecido Ceasa. Resolvo deixar a minha leitura noturna de lado, já que algo mais não aconteceria; apesar da minha insinuardência...
O repórter se focou na vida de alguns feirantes, eram descendentes de japoneses e italianos. O depoimento da família japonesa era o mais comovente; uma senhora conta como conseguiu criar os três filhos sozinhamente. Tinha um sorriso legítimo, de alguém que viveu de verdade; logo pensei, mulher bonita era ela, sem produção nenhuma, sem moda. Tinha uma expressão de alguém com uma vida bem realizada. Olhei para o lado, e vi o sorriso sarcástico do meu marido que disse que eu deveria um dia ser igual a ela.
Apagamos a luz e fomos... De repente me dei conta que havia um ser estranho entre nós. Acendi a luz e encontrei um ratinho morto. Morri de nojo daquele animal asqueroso. Liguei imediatamente para um infectologista e saber as chances de ter contraído uma leptospirose. Ainda me lembrei da feirante; ela que teve que conviver com ratos na sua trajetória de navio do Japão ao Brasil, e nem por isso morreu ou adoeceu!
Consegui naquela noite mesmo ficar parecida com a feirante, mas conviver com ratos não é um privilégio só nosso; a política brasileira está infestada deles!