terça-feira, 24 de novembro de 2009

Orelhão

Ploft, primeiro saiu uma; ploft depois a segunda. E em seguida o restante da cabeça.
A mãe levou um susto: - Nossa parece um ratinho com orelhas gigantes!
Era um ser minúsculo, quase prematuro, a tez branca, pálida. A primeira providência que d. Helena tomou em relação a sua nova cria foi consertar pessoalmente aquelas conchas auditivas; afinal sabia que se nada fizesse, seu filho seria apelidado de Dr. Spock, e como era uma boa mãe, logo tratou de colar um esparadrapo grudando cada extremidade na epiderme.
À medida que o tempo passava as orelhas também cresciam e se tornavam de abano; de modo que todo esforço de d. Helena para não ridicularizarem seu filho foi em vão. Seu novo apelido na escola era Dumbo.
D. Helena ficou de orelha em pé. O que fazer agora? Recorreu a otorrinos, cirurgiões plásticos, curandeiros, e nada adiantava. Seu filho era um verdadeiro orelhudo. O jeito era aceitar e nao dar ouvidos aos outros.
Foi assim que descobriram no menino uma incrível aptidão de escutar conversas. A primeira vez que foram almoçar fora, ele foi capaz de ouvir as conversas paralelas de todas as mesas e ainda discutir o assunto tratado na sua própria. Ele era um gênio, sua talento intelectual estava acima da média. D.Helena nao podia acreditar nos seus ouvidos, ai se encontrava uma solucao, aprofundar estas habilidades raras.
O garoto prodígio aprendeu rapidamente inglês, francês, italiano e alemão; possuía um ótimo ouvido para línguas, falava todas como um nativo. Aprendeu a tirar letras de música de ouvido, como autodidata, tocando vários instrumentos: piano, saxofone, violão e violino. Ganhou inúmeros prêmios musicais, se tornou interprete simultâneo de várias línguas, traduzindo mais de uma língua por vez. Percorreu o mundo participando de congressos, era uma sumidade.
Quando cansou da vida de estrela apenas se tornou um agente ouvidor secreto do governo e nunca mais baixou as orelhas!

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